Esse é o terceiro de uma série de posts que apresentam e discutem uma definição de jogos adequada ao estudo da Ludologia. Post anterior Jogos são não-produtivos. Quarto post ainda por vir….
Normalmente em um jogo cada jogador busca um objetivo comum, que garante a vitória, isoladamente, sendo que sua vitória implica diretamente na derrota dos outros. São jogos competitivos. Na variação mais simples, os objetivos são diferentes por jogador, como em War, onde existem cartas de objetivo que são mantidas em segredo pelo jogador até que ele alcance a vitória.
Em vários jogos, os jogadores devem se organizar em equipes, onde a vitória é compartilhada pelos seus membros, Nesse caso é comum ver a equipe, em última análise, como um “jogador” único. Este é o caso dos esportes como o Futebol, onde há uma despersonalização da vitória da pessoa e o time passa a ser o objeto de análise. Em vídeo games esse fenômeno é mais recente e foi alavancado pela expansão dos jogos em rede, como de MOBA ou League of Legends.
Podemos dizer que esses jogos são o paradigma e o que vem primeiro a mente quando falamos de jogos e formam o grupo de jogos competitivos.
Exstem também jogos onde ganhar não é o objetivo, os não-competitivos, ou onde a vitória deve ser compartilhada por todos os jogadores, os cooperativos. Esses jogos já existiam como brincadeiras de criança ou em jogos sociais, mas chegaram ao mercado bem mais modernamente, possivelmente inspirados nos RPGs.
Nos RPGs, todo um party joga junto tentando completar uma aventura. Scotland Yard, é um jogo de tabuleiro que remete aos RPGs, onde o objetivo é que todos os jogadores descubram um crime preparado por um narrador. Já Forbidden Island TM, é um jogo onde o objetivo é recuperar 4 artefatos arqueológicos em uma ilha que está sendo alagada pelo mar, onde ou todos os jogadores ganham ou todos perdem, o que gera uma dinâmica colaborativa totalmente diferente dos jogos de tabuleiro tradicionais.
Jogos cooperativos ainda são uma grande surpresa para alguns, como foi para os primeiros jogadores de Dungeons and Dragons, e o paradigma de competição é tão forte que muitos ainda vem, erradamente, os RPGs em geral como uma disputa entre o mestre e os jogadores.
Já os jogos não-competitivos, onde não há objetivo há alcançar, não são considerados jogos em sua plenitude da definição por alguns autores. Normalmente o objetivo comum é não parar de jogar, como no frescobol e The Sims™. Para Chris Crawford e Jesper Juul, por exemplo, The Sims™ não é um jogo, mas sim um passatempo, brinquedo ou objeto de fronteira.
Existe uma outra classe de jogos, onde a vitória é única, mas para que ela aconteça é necessário que os jogadores se juntem em associações, como guildas ou alianças onde, pelo menos temporariamente, tem objetivos similares, mesmo que apenas um possa ganhar o jogo. Em uma variação, há o caso onde jogadores tem que negociar com os outros para garantir seus interesses, como em Conquistadores de Catan. Esses jogos geram o conceito novo de “coopetição“, termo também aplicado a situação típicas da vida normal.
Finalmente, existem de jogos híbridos, onde alguns ganham e outros perdem, mas de forma dinâmica, não necessariamente usando times pré-formados ou alianças intra-jogo ou ainda jogos onde há o conceito de sobrevivência de parte de uma equipe.
Uma classe interessante de jogos são os jogos de traição, como The ResistanceTM, Battlestar Galactica e Shadows Over Camelot onde todos parecem, ou devem se comportar como, com maior ou menor caracterização, estar jogando juntos, mas alguns são traidores, que podem vencer o jogo em vez da “equipe principal”. São jogos competitivos, mas onde a competição fica escondida.
Outro exemplo de jogo híbrido é um jogo social muito conhecido no Brasil, Assassino ou Detetitive, chamado no exterior de Lobisomem, onde a maioria dos jogadores são possíveis vítimas, um jogador é o detetive (ou caçador) e o outro o assassino (lobisomem). Nesse caso ou o assassino ganha ou todos os outros jogadores ganham. Em algumas versões existem mais de um lobisomem ou mais figuras que auxiliam a caça ao lobisomem.
Por isso dizemos que o normal em um jogo é buscar a vitória isoladamente (objetivo conflitante), porém aceitamos outras alternativas (possivelmente) desde que outras das nossas regras sejam mantidas.